Entre Prazer e Intimidade
Uma Análise Netnográfica das Experiências de Clientes Sexuais Comerciais em Portugal
DOI:
https://doi.org/10.46661/relies.11875Palabras clave:
Clientes do sexo comercial, Experiência sexuais, Netnografia, Plataformas digitais, Comportamentos de riscoResumen
O presente estudo investiga as experiências de clientes de sexo comercial, a partir de uma abordagem netnográfica centrada no fórum GP-PT.net, dada a escassez de investigações sobre este grupo em Portugal. A análise visou compreender como os clientes representam as suas interações com profissionais do sexo, as dinâmicas negociais envolvidas e os sentidos atribuídos às experiências sexuais. Os resultados mostram que este grupo não é homogéneo e que os seus relatos vão além da busca por satisfação física imediata. Muitos expressam o desejo por envolvimento afetivo, valorizando não apenas atributos físicos, mas também características emocionais e relacionais das profissionais. Práticas como a Girlfriend Experience ilustram a procura por simulação de intimidade romântica, carinho e atenção, desafiando leituras simplistas e unidimensionais do sexo comercial. A análise identificou ainda a importância do espaço físico (higiene, privacidade, conforto) e do processo comunicacional (notavelmente via WhatsApp) na configuração da experiência sexual. As interações são avaliadas com base em múltiplos fatores subjetivos, articulando expectativas, prazer e controlo. Paralelamente, observam-se comportamentos de risco recorrentes, como a resistência ao uso do preservativo e o consumo de álcool, embora não tenham sido relatadas formas explícitas de violência física. Conclui-se que o consumo de sexo comercial é atravessado por uma complexa teia de significados — relacionais, simbólicos e normativos — que ultrapassam a mera transação. O estudo contribui para dar visibilidade a este grupo frequentemente marginalizado, propondo uma leitura mais densa e contextualizada das práticas sexuais mediadas digitalmente.
Descargas
Citas
Association of Internet Researchers. (AoIR). (2020). Internet research: Ethical guidelines 3.0. https://aoir.org/reports/ethics3.pdf
Belza, M. J., Fuente, L., Suárez, M., Vallejo, F., García, M., López, M., Barrio, G. & Bolea, A. (2008). Men who pay for sex in Spain and condom use: Prevalence and correlates in a representative sample of the general population. Sexually Transmitted Infections, 84(3), 207-211. https://sti.bmj.com/content/84/3/207 https://doi.org/10.1136/sti.2008.029827
Butler, J. (1990). Gender trouble: Feminism and the subversion of identity. Routledge.
Calvey, D. (2013). Covert ethnography in criminology: A submerged yet creative tradition. Current Issues in Criminal Justice, 25(1), 541-550. https://doi.org/10.1080/10345329.2013.12035980
Connell, R. W. (1995). Masculinities. University of California Press.
Cordeiro, A. L. (2023). Trabalho sexual, estigma e saúde: Discursos e percursos de profissionais portugueses/as. [Dissertação de mestrado, Faculdade de Ciências Humanas e Sociais]. Repositório Institucional da Universidade Fernando Pessoa. https://bdigital.ufp.pt/handle/10284/11506
Cruz, J. (2016). Estudo exploratório sobre as mulheres clientes de prostituição: Caraterísticas, motivações e significados. [Dissertação de mestrado, Universidade do Porto]. Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação. https://repositorio- aberto.up.pt/bitstream/10216/86662/2/160919.pdf
Cunningham, S., & Kendall, T. D. (2011). Prostitution, technology, and the law: New data and directions. In L. R. Cohen & J. D. Wright (Eds.), Research handbook on the economics of family law (pp. 221–231). Edward Elgar. https://doi.org/10.4337/9780857930644.00015
Cunningham, S., & Shah, M. (2018). Decriminalizing indoor prostitution: Implications for sexual violence and public health. The Review of Economic Studies, 85(3), 1683–1715. https://doi.org/10.1093/restud/rdx065
Deering, K. N., Shannon, K., Sinclair, H., Parsad, D., Gilbert, E., & Tyndall, M. W. (2014). Client demands for unsafe sex: The socioeconomic risk environment for HIV among street and off-street sex workers. American Journal of Public Health, 104(7), e80–e88. https://doi.org/10.1097/QAI.0b013e3182968d39
Dimbuene, Z. T., Emina, J. B., Sankoh O. (2014). UNAIDS “multiple sexual partners” core indicator: Promoting sexual networks to reduce potential biases. Global Health Action, 7(1). https://doi.org/10.3402/gha.v7.23103
Farley, M., Golding, J. M., Mattews, E. S., Malamuth, N. M., & Jarrett, L. (2017). Comparing sex buyers with men who do not buy sex: New data on prostitution and trafficking. Journal of Interpersonal Violence, 32(23), 3601-3625. https://doi.org/10.1177/0886260515600874
Fernandes, E., & Maia, A. (2001). Grounded Theory. In E. Fernandes & L. S. Almeida (Eds.), Métodos e técnicas de avaliação: Contributos para a prática e investigação psicológicas (pp. 49-76). Centro de Estudos da Criança da Universidade do Minho. http://repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/4209/1/Grounded%20Theory.pdf
Garcia, S., Yam, E & Firestone, M. (2006). “No party hat, no party”: Successful condom use in sex work in Mexico and the Dominican Republic. Reproductive Health Matters, 14(28), 53-62. https://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=951694# https://doi.org/10.1016/S0968-8080(06)28259-4
Harcourt, C., & Donovan, B. (2005). The many faces of sex work. Sexually Transmitted Infections, 81(3), 201–206. https://doi.org/10.1136/sti.2004.012468
Hine, C. (2015). Ethnography for the internet: Embedded, embodied and everyday. Bloomsbury Academic.
Jeffreys, S. (2009). The industrial vagina: The political economy of the global sex trade. Routledge.
Jones, K. Z. (2013). “Emotional landscapes” and the value of sex: Exploring the lived experiences of sex workers’ clients. [Dissertação de mestrado, Universidade Wilfrid Laurier]. https://scholars.wlu.ca/cgi/viewcontent.cgi?article=2711&context=etd&httpsredir=1&refere r=
Jones, A. (2016). “I get paid to have orgasms”: Adult webcam models’ negotiation of pleasure and danger. Signs: Journal of Women in Culture and Society, 42(1), 227–256. https://www.journals.uchicago.edu/doi/10.1086/686758 https://doi.org/10.1086/686758
Jordan, J. (1997). User pays: Why men buy sex. Australian & New Zealand Journal of Criminology, 30(1), 55-71. https://doi.org/10.1177/000486589703000105
Kozinets, R. V. (2020). Netnography: The essential guide to qualitative social media research (3rd ed.). Sage. https://doi.org/10.4324/9781003001430-2
Malarek, V. (2009). The Johns: Sex for sale and the men who buy it. Key Porter Books.
Marques, C. (2013). As mulheres clientes de sexo comercial: Um estudo exploratório sobre as clientes do striptease masculino. [Dissertação de Mestrado, Universidade do Porto]. Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação. https://hdl.handle.net/10216/111011
Martín, P. & Falcón, C. (2021). La relación de compraventa en la prostitución. Revista de Ciencias Humanas y Sociales, 78(153), 617-635. https://doi.org/10.14422/mis.v78.i153.y2020.004
Matias, S. (2014). Perceções de polícias sobre a prostituição: Um estudo exploratório feito no Porto. [Dissertação de Mestrado, Universidade do Porto]. Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação. https://hdl.handle.net/10216/79445
Melo, M. (2015). Masculinizar o trabalho sexual: Perceções e vivências de trabalhadores do sexo homens acerca do comércio de sexo entre homens. [Dissertação de Mestrado, Universidade do Porto]. Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação. https://repositorio- aberto.up.pt/bitstream/10216/83106/2/120535.pdf
Mkono, M., Ruhanen, L., & Markwell, K. (2021). From netnography to auto-netnography in tourism studies. Annals of Tourism Research, 87, 103123. https://doi.org/10.1016/j.annals.2015.03.002
Monto, M. (2004). Female prostitution, customers, and violence. Violence Against Women, 10(2), 160-188. https://doi.org/10.1177/1077801203260948
Monto, M. & Milrod, C. (2014). Ordinary or peculiar men? Comparing the customers of prostitutes with a nationally representative sample of men. International Journal of Offender Therapy and Comparative Criminology, 58(7), 802-820. https://doi.org/10.1177/0306624X13480487
Morcillo, S., Martynowsky, E & Barbero, M. S. (2021). ¿El macho “apichonado”? Masculinidad, emociones y relaciones de género en los relatos de varones que pagan por sexo en Argentina. Contemporânea: Revista de Psicologia da UFSCar, 11, 608-622. https://doi.org/10.4322/2316-1329.2021007
Moreira, C. (2019). Mulheres trans trabalhadoras do sexo: Impactos e significados sobre o corpo e a sáude. [Dissertação de Mestrado, Instituto Universitário da Maia]. ISMAI. https://repositorio.umaia.pt/bitstream/10400.24/1214/1/TESE_FINAL_out.pdf
Oliveira, A. (2008). O mundo da prostituição: Trajectórias, discursos e práticas: Um estudo etnográfico. [Dissertação de mestrado, Universidade do Porto]. Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação. https://repositorio-aberto.up.pt/handle/10216/95118
Oliveira, A. (2017). Prostituição em Portugal: Uma atividade marginalizada num país que tolera mais do que persegue. Bagoas, 17, 201-224. https://periodicos.ufrn.br/bagoas/article/view/13525
Orchard, T. (2019). Sex work and prostitution. In Encyclopedia of Sexuality and Gender (Vol. 2, pp. 1-5). Springer. https://link.springer.com/referenceworkentry/10.1007/978-3-319-59531-3_15-1#citeas https://doi.org/10.1007/978-3-319-59531-3_15-1
Pandor, A., Kaltenthaler, E., Higgins, A., Lorimer, K., Smith, S., wylie K., & Wong, R. (2015). Sexual health risk reduction interventions for people with severe mental illness: A systematic review. BMC Public Health, 15, Artigo 138. https://doi.org/10.1186/s12889-015-1448-4
Pinto, M. (2018). Prostituição de luxo: Sentidos e representações atribuídas à prostituição de luxo em contexto universitário. [Dissertação de Mestrado, Universidade do Minho]. Instituto de Ciências Sociais. https://hdl.handle.net/1822/56049
Pitcher, J. (2014). Diversity in sex work in the UK: Meanings and values. Graduate Journal of Social Science, 11(2), 44–61. https://gjss.org/sites/default/files/issues/chapters/papers/GJSS%20Vol%2011-2%20Pitcher.pdf
Ramalho, N. (2012). O trabalho sexual: Discursos e práticas dos assistentes sociais em debate. Sexualidad, Salud y Sociedade, 12, 64-91. https://doi.org/10.1590/S1984-64872012000600004
Ramalho, N., & Vaz, A. (2016). Quem são os clientes das travestis trabalhadoras do sexo em Portugal? Breve caraterização dos T-Lovers. In Atas do IX Congresso Português de Sociologia: Portugal, território de territórios. http://hdl.handle.net/10071/23135
Ramalho, N. (2019). “Virar Travesti”: Trajetórias de vida, prostituição e vulnerabilidade social. [Tese de Doutoramento, Iscte – Instituto Universitário de Lisboa]. Repositório do Iscte. http://hdl.handle.net/10071/19313
Ramalho, N. (2021). A vitimação de mulheres trans em contextos de trabalho sexual. In VI Congresso Internacional de Direitos Humanos de Coimbra: Uma visão transdisciplinar (pp. 394-405). https://repositorio.iscte-iul.pt/bitstream/10071/25970/1/conferenceobject_89798.pdf
Ray, A. (2007). Sex on the open market: Sex workers harness the power of the Internet. In K. Jacobs, M. Janssen, & M. Pasquinelli (Eds.), C’lick me: A netporn studies reader (pp. 45–68). Institute of Network Cultures.
Rolo, A. (2017). Violência contra trabalhadoras sexuais. [Dissertação de Mestrado, Universidade Fernando Pessoa]. Repositório Institucional da Universidade Fernando Pessoa. http://hdl.handle.net/10284/6160
Sacramento, O. (2005). Os clientes da prostituição abrigada: A procura do sexo comercial na perspetiva da construção da masculinidade [Dissertação de mestrado, Instituto de Ciências Sociais da Universidade do Minho]. Repositório Aberto da Universidade do Minho. https://hdl.handle.net/1822/37019
Sacramento, O. & Ribeiro, B. F. (2010). Mulheres que trabalham, homens que se envolvem: Género, estratégias e práticas na prostituição abrigada. In M. C. Silva & B. F. Ribeiro (Eds.), Mulheres da Vida, Mulheres com Vida: Prostituição, Estado e Políticas (pp. 165-182). Editora Húmus.
Sanders, T. (2008). Paying for Pleasure: Men Who Buy Sex. Willan Publishing.
Sanders, T., Connelly, L., & King, L. (2016). On our own terms: The working conditions of Internet-based sex workers in the UK. Sociological Research Online, 21(4), 133–146. https://doi.org/10.5153/sro.4152
Sanders, T., Scoular, J., Campbell, R., Pitcher, J., & Cunningham, S. (2018). Internet sex work: Beyond the gaze. Palgrave Macmillan. https://doi.org/10.1007/978-3-319-65630-4
Seidu, A. A., Darteh, E. K M., Kumi-Kyereme, A., Dickson, K. S., & Ahinkorah, B. O. (2019). Paid sex among men in sub-Saharan Africa: Analysis of the demographic and health survey. SSM Population Health, 11, 100459 https://doi.org/10.1016/j.ssmph.2019.100459
Schei, B & Stigum, H. (2010). A study of men who pay for sex, based on the Norwegian national sex surveys. Scandinavian Journal of Public Health, 38(2), 135-140. https://doi.org/10.1016/j.ssmph.2019.100459
Smith, C. & Attwood, F. (2013). Emotional truths and thrilling slide shows: The resurgence of antiporn feminism. In T. Taormino, C. Penley, C. Shimizu, & M. Miller-Young (Eds.), The feminist porn book: The politics of producing pleasure (pp. 41-55). Feminist Press at the City, University of New York.
Smith, N., Laing, M., & Pilcher, K. (2015). Queer sex work. (1st ed.). Routledge. https://doi.org/10.4324/9780203761960
Tariq, N., & Gupta, V. (2023). High risks behaviors. StatPearls Publishing. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK560756/
Ward, H., Mercer, C. H., Wellings, K., Fenton, K., Erens, B., Copas, A., & Johnson, A. (2005). Who pays for sex? An analysis of the increasing prevalence of female commercial sex among men in Britain. Sexual Transmitted Infections, 81(6), 467-471. https://sti.bmj.com/content/81/6/467 https://doi.org/10.1136/sti.2005.014985
Weitzer, R. (2000). Sex for sale: Prostitution, pornography and the sex industry. Routledge.
Weitzer, R. (2009). Sociology of sex work. Annual Review of Sociology, 35(1), 213-234. https://doi.org/10.1146/annurev-soc-070308-120025
Descargas
Publicado
Cómo citar
Número
Sección
Licencia
Derechos de autor 2025 Nélson Ramalho, Bárbara Moreno

Esta obra está bajo una licencia internacional Creative Commons Atribución-NoComercial 4.0.